terça-feira, 3 de agosto de 2010

No Vitória, o que os olhos não veem, o coração sente em dobro

No Vitória, o que os olhos não veem, o coração sente em dobro
Massagista do clube há 23 anos, Edmilton Pedreira, o Tuca, é deficiente visual e sonha poder sentir o orgulho de ser campeão da Copa do Brasil

Segundo jogo da semifinal da Copa do Brasil entre Vitória e Atlético-GO. Um membro da comissão técnica não vai ao campo do Barradão e fica no vestiário agarrado ao seu rádio. Pelo aparelho, ouve o Leão golear e se classificar pela primeira vez para a final da Copa do Brasil. Espera pacientemente até “seus meninos” entrarem no local para poder dar um abraço em cada um. Mesmo sem poder enxergar, ele consegue ver o que aquele jogo significou para o clube.

Edmilton Pedreira, o Tuca, é massagista do Vitória há 23 anos. Deficiente visual por conta de um erro médico quando tinha 16, ele é considerado pelos jogadores um dos melhores profissionais do mercado. Além das massagens, Tuca dá conselhos aos atletas. Passa mensagens de apoio e de amor ao Leão. E também de superação.

- Eu tinha 16 anos quando o médico disse que eu estava com a vista cansada e me deu uma injeção. Foi aí que fiquei totalmente cego. Na hora, pensei que era o fim do mundo. Mas minha família me deu apoio e me fez não desistir das coisas. Voltei a estudar e fiz um curso de massoterapia. Por não poder enxergar, eu apurei muito o tato. E isso faz com que eu seja muito bom na minha profissão. Durante os jogos, prefiro ficar sozinho para não perder nenhum detalhe e conseguir imaginar o que está acontecendo – revela.

Essa história de superação é um exemplo para os jogadores do Vitória, que precisam inverter um placar adverso por 2 a 0, conquistado pelo Santos no primeiro jogo da final da Copa do Brasil. Edmilton revela que a conquista do torneio seria um sonho para ele.

- Como torcedor, vai ser um alento poder dizer que tenho uma estrela sobre o escudo. Uma resposta ao torcedor do Bahia, que fala que não conquistamos um torneio nacional. Pelo lado profissional, vai ser bom porque coroará um trabalho que vem sendo feito por pessoas competentes e que gostam do clube.
O carinho dos jogadores fica claro durante a entrevista de Tuca com o GLOBOESPORTE.COM. Todos fazem questão de abraçar o massagista quando passam por ele. Ramon, que havia conversado com a reportagem no dia anterior, chega perto e avisa:

- Agora você está falando com a pessoa certa. Esse cara é fera! – disse.

Vanderson, que está abatido por não poder disputar o segundo jogo da final (está suspenso pelo terceiro amarelo), espera a entrevista acabar para pedir que Tuca sente ao seu lado. Quer conversar um pouco para tentar espantar a tristeza.

Todo esse carinho também é refletido em brincadeiras. Os mais velhos costumam dizer que Edmilton era o olheiro do time no fim da década de 90, quando o clube teve equipes consideradas muito fracas tecnicamente. Os mais jovens preferem pegar no pé tentando despistá-lo.

- Isso é fruto do carinho que eles têm por mim. Adoro isso.

Nesta quarta, Tuca vai aconselhar os jogadores um a um. Quer passar a eles confiança para buscar o título da Copa do Brasil. Uma taça que ele não poderá ver, mas que vai sentir mais que todos os rubro-negros.

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